Quando os europeus chegaram aqui, há mais de 500 anos, os povos indígenas estavam espalhados por toda a região que veio a se chamar Brasil e já ocupavam esse território há pelo menos 12 mil anos.

Cada povo tinha formas muito diferentes de ocupar e dividir o território, de conhecer a geografia e de utilizar e cuidar do meio ambiente.

Antes do contato, os povos indígenas não estabeleciam limites territoriais fixos. Eles andavam muito. Faziam longas viagens para procurar recursos naturais em locais distantes de suas aldeias – passavam longos períodos caçando e pescando, viajavam para buscar remédios e coletar frutas e mel, entre outras atividades.

Um dos grandes desafios enfrentados pelos povos indígenas a partir do contato com os não indígenas foi a diminuição da área de seus territórios, o que impedia a ocupação do espaço segundo seus modos de vida e tradições.

Tudo isso aconteceu ao longo dos séculos. Primeiro houve a ocupação do litoral e, aos poucos, o interior do Brasil também foi sendo conquistado. Nesse processo, para garantirem seu espaço, os indígenas adotaram diferentes estratégias: alguns entraram em guerra com os conquistadores, outros mudaram de território, caminhando em direção ao interior. Muitas vezes esses movimentos de fuga para o interior resultavam em guerras, pois quando um povo chegava em um novo território tinha que disputá-lo com outro grupo indígena que já vivia ali.

Novos Desafios

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Veja aqui um exemplo de como a limitação dos territórios indígenas e o confinamento em pequenas Terras Indígenas é de fato um grande desafio.

Nessa cartilha produzida pelo projeto Plano de Gestão Ambiental na Área Indígena de Caarapó, em Mato Grosso do Sul, vemos o esforço do povo Guarani Kaiowá para encontrar novas formas de se relacionar com seus territórios.

O que mudou na vida dos povos com a restrição de seus territórios?

Um dos problemas gerados foi a concentração de aldeias em torno dos postos de apoio instalados pela Funai. As pessoas foram morar perto desses locais, pois ali tinham acesso à assistência médica, à educação, entre outras coisas. Em muitas terras indígenas, a população se concentrou em uma única área e assim se tornou sedentária – isto é, deixou de se deslocar pelo território.

Aos poucos, o número pessoas foi crescendo e o aumento de atividades de caça, pesca, coleta e plantio nos arredores das aldeias contribuiu para a diminuição das espécies animais e vegetais, tão importantes para os modos de vida indígenas.

Preocupadas com tais mudanças, algumas comunidades indígenas começaram a desenvolver projetos de uso sustentável dos recursos mais usados e em risco de desaparecimento.

Leia abaixo o texto de Korotowï Ikpeng que fala de um jeito de pescar que faz uso do timbó. O timbó é um cipó que tem uma substância venenosa para os peixes. Bater timbó é um tipo de pescaria muito comum entre diversas populações indígenas.

Os Ikpeng eram um povo guerreiro que vivia caminhando pelo seu território. Hoje eles vivem em aldeias fixas no Parque Indígena do Xingu.

O texto abaixo, publicado no livro Ecologia, Economia e Cultura (2005), fala sobre como os Ikpeng agora cuidam para que os peixes em sua terra não acabem.

O manejo dos peixes

Desenho de Mariti Ikpeng. Fonte: Ecologia, Economia e Cultura (livro 1). Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), 2005.
Desenho de Mariti Ikpeng. Fonte: Ecologia, Economia e Cultura (livro 1). Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), 2005.

O meu povo tem seu manejo com os peixes da lagoa. Bate timbó nesse ano na lagoa e espera um ou dois anos para bater outra vez. Assim sempre tem peixe na lagoa onde batemos timbó.

Meu povo diz que se bater timbó todos os anos na mesma lagoa pode acabar com o peixe e pode nascer capim na lagoa. Então os jovens têm essa orientação sobre o cuidado com os peixes.

Texto de Korotowï Ikpeng

Para saber mais sobre a pesca com o timbó e outras técnicas de pescaria, visite a seção Alimentação.

Manejo de tartarugas - Comunidade Ashaninka do rio Amônia

Localização da Terra Indígena Kampa do rio Amônea. Fonte: Instituto Socioambiental, 2009.
Localização da Terra Indígena Kampa do rio Amônea. Fonte: Instituto Socioambiental, 2009.

No Brasil, os Ashaninka vivem na região do alto Juruá, no Acre, e somam mais de 1000 pessoas. Há também muitos Ashaninka vivendo no Peru: são mais de 95 mil!

A preocupação dos Ashaninka com o ambiente é grande. Após os danos causados pela exploração madeireira, pelas pescarias e caçadas predatórias realizadas por não indígenas, eles decidiram realizar um plano de manejo dos tracajás, um tipo de tartaruga que quase desapareceu da região.

Proibiram a coleta de ovos e o consumo da carne do animal durante um período de 3 anos. A população de tartarugas, que estava em extinção no rio Amônia, aumentou novamente. Desde 2003, os Ashaninka promovem uma festa anual no dia da soltura de centenas de tartarugas que voltam aos rios da região.

Assista ao vídeo!