Pouca gente sabe, mas a Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro – e também um dos mais ameaçados. Seu nome vem do tupi-guarani e significa floresta branca, porque durante os períodos de seca, as plantas reduzem a perda de água soltando suas folhas e ganham uma cor esbranquiçada.

Caatinga. Foto: Geyson Magno
Caatinga. Foto: Geyson Magno

Dentro do que chamamos de Caatinga existem vários tipos caatinga, paisagens diferentes que se espalham pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Bahia, Alagoas e Sergipe, além de pequenas porções do Maranhão e de Minas Gerais.

Mas para além de uma biodiversidade vegetal e animal muito rica, com espécies como a Ararinha-azul, ameaçada de extinção, a Caatinga também é dona de uma grande diversidade cultural.

Hoje em dia, cerca de 60 povos indígenas vivem na Caatinga, mais da metade deles na bacia do Rio São Francisco – um de seus rios mais importantes. Entre eles estão os Atikum, Fulni-ô, Jenipapo-Kanindé, Jiripancó, Pankararé, Pitaguary, Tingui Botó, Truká, Tumbalalá, Xakriabá e Xukuru, entre muitos outros, profundos conhecedores da Caatinga e responsáveis por sua conservação.

Crianças do povo Kariri-Xocó. Fonte: Celso Brandão, 1998
Crianças do povo Kariri-Xocó. Fonte: Celso Brandão, 1998

Os Kariri-Xocó são um desses povos que vivem em Porto Real do Colégio (AL), no vale do São Francisco. No livro Fulkaxó, ser e viver Kariri-Xocó, editado pelo Sesc, o pensador e escritor Nhenety Kariri-Xocó apresenta um panorama sobre o modo de vida e a história desse povo, seu território e seus conhecimentos. Descubra, no trecho abaixo, um pouco sobre a diversidade de espécies nativas da Caatinga que são manejadas pelos Kariri-Xocó.

 

 

Tempo das frutas

"Nossa flora tem muitas espécies de vegetais, mas aqui vamos relacionar as que dão frutas, aquelas que utilizamos para nossa alimentação no dia a dia. Começamos em janeiro com o caju, fruta amarela e vermelha, muito doce, é rancenta; tem também a fruta do ouricuri. Em fevereiro tem a maturação da ubaia, fruta amarela e azedinha; temos também a gavadinha, arbusto que bota pequeninos frutos escuros, doces, que nós comemos, mas os pássaros também apreciam muito.

De março a abril temos o cajá, árvore frondosa, com frutas amarelas; o chão fica forrado, as crianças enchem as vasilhas, produzem muito muito lá na mata do ouricuri. Em abril temos o juá, de frutos doces e liguentos; a árvore é espinhosa, muito utilizada na limpeza dos dentes. De maio a junho temos o jenipapo e o goiti, a primeira dá sucos deliciosos, além de servir para a pintura corporal. O goiti é doce que faz gosto, mas tem um travo. Essas plantas aparecem nas margens do rio, algumas pessoas comem, mas muitas não apreciam seu gosto. O mamão tem água no pé, bota em toda época, são frutas grandes e leitoras quando verdes, usadas como sobremesa pelas famílias, alimento das crianças, assim como as bananas em maio.

De setembro a outubro tem a canafístula, que é usada na alimentação, além de combater a gripe em xarope. Em novembro, é a vez do maracujá do mato, e, em dezembro, da gobiroba. Aqui não citamos manga, jaca, limão, tamarindo, uva, acerola, carambola, pinha, coco, fruta-pão, laranja, jamelão, porque são frutas de fora. Temos delas aqui na área indígena, mas não são espécies nativas da região".

Nhenety Kariri-Xocó

Outros textos sobre a vida e a cultura desse povo você encontra no blogue do escritor Nhenety Kariri-Xocó. Acesse aqui!