Normalmente aprendemos nas escolas, na televisão e em alguns livros, que os indígenas vivem em casas chamadas de ocas que, juntas formam aldeias, normalmente em formato de círculo. Isso não está incorreto, mas existem vários outros tipos de habitações indígenas que você vai conhecer aqui!
Antes de mais nada, você sabe o que é oca?
- Oca é um dos nomes dados às casas indígenas, e é uma palavra de origem Tupi.
Como são as casas e as aldeias indígenas?
Entre os grupos indígenas há muitas formas de conceber e construir as casas, pois cada grupo tem um jeito diferente de pensar e de se relacionar com o ambiente onde vive. A casa é sempre parte da cultura de um povo.
A maneira como ela é usada, dividida e construída reflete o jeito que os moradores têm de organizar o mundo. Além disso, as construções variam muito de acordo com o modo de vida, o clima, o tipo de ambiente e os materiais de que os grupos dispõem para a construção.
Que formas têm as casas indígenas?
As formas das casas variam segundo os costumes de cada grupo: podem ser circulares, retangulares, pentagonais, ovais...O formato das aldeias também muda de acordo com o povo. O contato com os não indígenas influenciou em muitas mudanças ocorridas tanto no formato de aldeias e casas, quanto no material utilizado para a construção em algumas sociedades indígenas.
Isso aconteceu também nas aldeias longe das cidades?
Sim, aconteceu em algumas aldeias afastadas, mas a proximidade das cidades pode facilitar esse tipo de influência. Se as aldeias estão próximas às cidades, as relações com os não indígenas são mais freqüentes e as casas podem ser construídas de materiais comprados nos mercados, parecendo-se mais com as casas dos não indígenas, feitas de alvenaria, por exemplo.
Aldeia Yawalapiti
Os Yawalapiti vivem na parte sul do Parque Indígena do Xingu, conhecida como Alto Xingu. Como todas as aldeias da região, a aldeia yawalapiti tem a forma de um círculo, com as casas dispostas ao redor de um espaço central, local de uso masculino, onde está localizada a casa dos homens.
Como é a casa dos Yawalapiti?
As diferentes partes da casa são relacionadas com partes do corpo humano ou animal. A parte da frente, por exemplo, corresponde ao peito, os fundos são as costas, a porta é a boca e os pilares são as pernas.
As casas são comunais, isto é, comuns a várias famílias, aparentadas entre si. O tamanho da casa varia de acordo com o número de moradores. O espaço interno normalmente é organizado assim: há o espaço da cozinha; o depósito de alimentos que fica no centro da casa, e um outro, em frente à porta de entrada, onde os visitantes são recebidos e as danças realizadas. Os moradores dormem em redes que são amarradas nas laterais da casa. À noite, a casa é fechada com portas feitas de madeira e palha e pequenas fogueiras são acesas abaixo das redes, deixando o interior com uma temperatura agradável.
O que é a casa dos homens?
Em muitas aldeias de diversos povos indígenas existe uma casa especial para os homens. Não é uma casa de moradia, mas um local onde eles se reúnem e também onde realizam rituais. As mulheres não podem entrar na casa e nem participar dos rituais porque esta é uma atividade masculina. Entre os povos indígenas, é comum existir atividades que são realizadas exclusivamente por um dos gêneros, isto é, ou são praticadas pelas mulheres ou pelos homens. A casa dos homens é um espaço onde fica clara essa diferenciação.
Aldeias Karajá
Os Karajá têm suas aldeias localizadas nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Suas casas se parecem com as habitações dos caboclos das regiões vizinhas, mas a maneira que os Karajá organizam o espaço interno de suas casas é muito diferente!Antigamente os Karajá não tinham uma aldeia permanente. Na estação das chuvas, quando o rio Araguaia enche, a aldeia era construída nos barrancos mais altos, longe das margens. As casas possuíam uma estrutura de madeira e o teto de palha se estendia até o chão para fechar completamente as casas e proteger os seus moradores das chuvas e dos ventos. Na estação seca, a aldeia se transferia para as margens do rio, facilitando a pesca e a coleta de alimentos. As casas construídas neste período eram casas mais simples que aquelas feitas no período de chuvas. Em qualquer época, porém, as casas eram dispostas em linhas de frente para o rio. A única casa que ficava afastada era a casa dos homens, chamada de "Casa de Aruanã" ou "Casa do Bicho", local de reunião dos homens e de aprendizado para os rapazes solteiros.
Atualmente não é mais assim?
Por causa de um violento massacre que sofreram, os Karajá abandonaram o seu ciclo anual de subsistência, quando construíam moradias em diferentes locais. Atualmente suas casas têm um formato retangular ou quadrado, o piso é de terra batida e o telhado é feito de madeira ou da palha da palmeira babaçu. As paredes são de palha e não há janelas. A ventilação, a iluminação e a saída da fumaça acontecem através das frestas da palha. Não há divisões internas nas casas e os espaços são separados apenas com esteiras, cada uma delimitando onde a família dorme à noite e trabalha ou descansa durante o dia. Em algumas aldeias existem casas de alvenaria construídas pelo governo, mas seus moradores as abandonaram e voltaram a viver em casas de palha, pois as construções de alvenaria ignoravam o clima do local. Mas o maior problema é que essas casas não respeitavam às práticas sociais e culturais mais importantes para a população karajá.
Aldeias Xavante
Os Xavante somam hoje cerca de 15 mil pessoas e vivem em doze terras indígenas localizadas no estado do Mato Grosso. É um povo que costumava se deslocar muito e ocupava vários espaços. Eles tinham uma aldeia que servia como base e acampamentos temporários que eram construídos, ao longo do ano, durante as migrações.Quando não estavam nos acampamentos, os Xavante ficavam na aldeia trabalhando em várias atividades, especialmente na roça.Esses deslocamentos aconteciam em regiões que hoje em dia são grandes cidades do interior do Mato Grosso.
Existem muitas aldeias xavante?
Atualmente existem aproximadamente 165 aldeias e, sempre que possível, elas são construídas na junção de dois rios. As aldeias têm a forma de uma ferradura voltada para o maior rio, padrão que também costumava ser seguido nos acampamentos temporários. O Warã é o espaço central da aldeia onde os homens tomam decisões importantes em encontros que as mulheres e crianças não podem participar.
Como são as casas dos Xavante?
As casas tradicionais são construídas de madeira e cobertas de palha até o chão e ficam próximas umas das outras, formando o desenho da ferradura. A única entrada da casa está voltada para o centro da aldeia. No interior das casas há um espaço para cada família, que é delimitado por esteiras, e é ao redor do fogo onde todos se reúnem.
Hoje em dia, no entanto, as casas xavante estão mais parecidas com as dos sertanejos, ou seja, são quadradas, com telhado em forma de 'V' invertido, ou redondas com telhado em forma de cone.
Aldeias Wajãpi
Os Wajãpi vivem nos Estados do Amapá e Pará, no Brasil, e na Guiana Francesa. Geralmente constroem suas aldeias em locais próximos a pequenos rios. Ali podem caçar, pescar, fazer roça e encontrar os materiais necessários para a construção de suas casas. Quando esses recursos começam a diminuir, abandonam sua aldeia e constroem uma nova. Como são as aldeias dos Wajãpi? Se você olhar as aldeias wajãpi, vai perceber que nem sempre elas se parecem umas com as outras, pois não possuem um desenho padrão. As casas parecem distribuir-se sem nenhuma ordem, mas um olhar mais atento percebe que elas se organizam em conjuntos que correspondem a grupos de parentes. No geral, todas as aldeias são formadas por roças e pátios, que são os locais onde são construídas as casas. Uma aldeia tanto pode ter um único pátio com poucas casas ao redor, quanto vários pátios, isso depende das relações estabelecidas entre as famílias que costumam morar próximas umas das outras.
E como são as casas?
As casas podem ser de dois tipos, e isso depende se a ocupação é temporária ou permanente. Nos acampamentos temporários, construídos durante as expedições de caça, por exemplo, a casa é mais simples, pois há somente o espaço necessário para cobrir as redes. Esse tipo de casa é também construído perto das roças para acolher a mãe e o filho recém-nascido ou perto das casas permanentes, para servir de cozinha.
As casas permanentes têm um tamanho variado, mas seguem um padrão tradicional: com estruturas de madeira, base retangular e cobertura de palha. Atualmente há casas mais parecidas com a dos não indígenas: com portas, fechaduras e divisões internas feitas de alvenaria. As redes são amarradas no centro da casa e o fogo fica sempre aceso em uma de suas extremidades. Os alimentos são preparados fora da casa, na "casa-cozinha" ou ainda em um fogo do lado de fora.As atividades feitas no interior das casas normalmente são as refeições e o descanso, sempre em família. Em algumas ocasiões, eles se reúnem na praça da aldeia, separados sempre entre homens e mulheres, para refeições coletivas ou para fazer suas festas.
O que os Tuyuka dizem sobre suas habitações?
Os Tuyuka, que vivem na região do Alto Rio Negro, no noroeste da Amazônia, falam uma língua da família Tukano. São aproximadamente mil e trezentas pessoas, 825 no Brasil e mais 570 na Colômbia. Você sabe como eles viviam antigamente e vivem nos dias de hoje? O texto abaixo foi extraído do livro Histórias Tuyuka de rir e de assustar (2004). Veja o que eles nos contam:
A casa sagrada ou maloca
Antigamente todos os povos indígenas do Alto Rio Negro construíam casas bem grandes, chamadas de maloca, que eram moradas coletivas de várias famílias. São para até 10 famílias.Durante um ritual ou festa, a maloca representa o universo, o chão da maloca é a terra, os postes são montanhas que sustentam o telhado, que representa o céu. Sob o solo da maloca corre, de oeste a leste, um rio invisível, fonte de vida.
Hoje as malocas são encontradas em poucas comunidades. Isso porque aconteceu naquela região uma catequese muito violenta. Alguns religiosos, em seu intuito de enfraquecer a cultura dos índios, proibiram-nos de morar em malocas, insistindo para que cada família construísse sua casa individual.(Texto dos Tuyuka das comunidades de Pari acima, Alto rio Tiquié)
Fontes de informação
- Catherine Gallois
Wajãpi rena: roças, pátios e casas (2002).
- Dominique Tilkin Gallois
Patrimônio cultural imaterial e povos indígenas (2006).
- Julio Cezar Melatti
Índios no Brasil (2007).
- Cristina Sá
Observações sobre a habitação em três grupos indígenas brasileiros, do livro Habitações Indígenas (1983).
- Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka, FOIRN e Instituto Socioambiental (ISA)
Histórias Tuyuka de rir e de chorar (2004).