Quando falamos de línguas indígenas, a primeira coisa que se pensa é que no Brasil todos os povos falam Tupi. Mas a diversidade de línguas indígenas no nosso país é enorme!

Nos dias de hoje, existem mais de 6 mil línguas diferentes em todo o mundo! Desse conjunto, mais de 160 línguas são faladas pelos povos indígenas no Brasil, pertencentes a muitas e diferentes famílias linguísticas! Você imaginava que eram tantas assim?

Famílias linguísticas indígenas no Brasil. Fonte: Instituto Socioambiental, 2023
Famílias linguísticas indígenas no Brasil. Fonte: Instituto Socioambiental, 2023

Muitos povos, muitas línguas

Mais do que servir para a comunicação, cada língua indígena revela uma forma diferente de ver e compreender o mundo. Ao descrever os objetos, as paisagens e as situações do cotidiano, as palavras expressam um modo de pensar construído por gerações e gerações de um povo: saberes únicos. Por isso, o desaparecimento de qualquer língua é uma perda para toda a humanidade.

Além disso, todas as línguas – indígenas ou não – são ricas e complexas: têm extensos conjuntos de palavras, das mais simples às mais abstratas. Por isso, para garantir a comunicação, as línguas se adaptam à realidade e à história dos povos.

Assim, como os povos que as falam, as línguas não ficam paradas no tempo: têm passado, presente e futuro.

Existem povos que não falam mais suas línguas?

Como diz o historiador José Bessa Freire: “A língua é arquivo da história, é a canoa do tempo, responsável por levar os conhecimentos de uma geração à outra”. Por isso, uma língua está em risco de extinção quando os falantes:

  • param de usá-la;
  • só a usam em um número pequeno de situações de comunicação;
  • deixam de transmiti-la de uma geração para outra.

Essa é a situação de alguns povos indígenas no Brasil atual. Em 1550, logo após a ocupação portuguesa, o número de línguas era muito maior: cerca de 1000 línguas diferentes. Mas muitas delas desapareceram durante a colonização; outras continuam ameaçadas ainda hoje.

Um exemplo é o dos povos que vivem no Nordeste, a mais antiga região de colonização do Brasil. Foi lá que foram estabelecidos alguns dos primeiros aldeamentos missionários, locais onde se fazia a catequese: a conversão dos indígenas ao catolicismo e ao jeito de ser do colonizador. Nesses aldeamentos do período colonial, diferentes povos indígenas eram obrigados a viver juntos, sendo maltratados, obrigados a trabalhar e a abandonar suas línguas.

Mesmo assim, algumas línguas indígenas resistiram aos impactos da colonização nessa região, como é o caso do Yathê, do povo Fulni-ô, no Pernambuco.

Ouça aqui um álbum cantado em Yathê e em Português, do grupo Fethxa, formado por músicos do povo Fulni-ô!

Você sabia que…

  • apenas 25 línguas indígenas são faladas por mais de 5 mil pessoas?
  • cerca de 110 línguas indígenas são faladas por menos de 400 pessoas?
  • a língua dos Akuntsu é falada apenas pelas 3 pessoas que formam esse grupo indígena?
  • Os Guató têm uma população de cerca de 370 pessoas, mas há apenas 5 falantes de sua língua!
Kunibu [primeiro plano], em frente à maloca. Foto: Adelino de Lucena Mendes, 2002.
Kunibu [primeiro plano], em frente à maloca. Foto: Adelino de Lucena Mendes, 2002.
Família do Sr. Rosauro Guató, em frente à casa, na aldeia Uberaba. Foto: Suki Ozaki, 2006
Família do Sr. Rosauro Guató, em frente à casa, na aldeia Uberaba. Foto: Suki Ozaki, 2006

Fontes de informação

  • Aryon Dall´Igna Rodrigues

Línguas Brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas (1986)

  • UNESCO

Vitalidade da língua e línguas em perigo de extinção (2003)

Atlas Interativo das línguas em perigo no mundo

  • Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Museu do Índio/Funai)

Línguas Indígenas

  • José Ribamar Bessa Freire

Se eu fosse os índios: as línguas (2009)