Uma das regiões mais ameaçadas do planeta, o bioma foi tão depredado pela ocupação destrutiva dos não indígenas que, se até o século XVI ela cobria 15% do territorio brasileiro, hoje só restaram cerca de 7% da cobertura vegetal original!

Paisagem da Mata Atlântica na região sul do Brasil, com destaque para o pinheiro-do-paraná. Foto: Silvia Futada, 2009.
Paisagem da Mata Atlântica na região sul do Brasil, com destaque para o pinheiro-do-paraná. Foto: Silvia Futada, 2009.

Mesmo assim, a floresta ainda mantém uma rica biodiversidade. A mata Atlântica possui mais mil espécies de aves e 270 mamíferos, estando ainda em primeiro lugar na diversidade de árvores no mundo! O bioma é formado por diversos ecossistemas, como mangues, restingas (vegetação de praia) e florestas mais ou menos úmidas. Estima-se que haja hoje até 20 mil espécies de plantas!

As classificações dos Guarani Mbyá

Os Guarani Mbyá, grandes conhecedores do ambiente em que vivem, nomearam toda essa variedade de formações vegetais e unidades de relevo. Alguns exemplos desses nomes são:

  • Yvy yvate é como são chamados morros e serras;

  • Ka'agüy poru ey são matas intocadas, lugares que os homens nunca mexeram e nem devem mexer, pois são lugares sagrados;

  • Ka’agüy karape’i são as matas de capoeira, regiões de matas baixas, boas para roça e para fazer a casa;

  • Kapi’i são as formações vegetais onde se encontram espécies boas para cobertura de casa, como o sapé.

 

Dar nome a algo é uma maneira de classificar, conhecer e de se relacionar com um certo elemento. No caso dos Guarani, isso mostra como é forte sua relação com o ambiente em que vivem.

Comunidade Guarani Mbyá de Bracuí, em Angra dos Reis (RJ). Foto: Milton Guran, 1988.
Comunidade Guarani Mbyá de Bracuí, em Angra dos Reis (RJ). Foto: Milton Guran, 1988.

Os saberes Guarani

A coleta das diversas espécies vegetais é um exemplo desta relação. Conhecem as plantas que devem ser usadas para a cura de doenças, para a alimentação, construção de casa e produção de artesanato. Os telhados de suas casas são tradicionalmente construídos de pindó, uma palmeira típica das regiões que habitam.

Para preservar as espécies que utilizam na alimentação não caçam animais nos períodos de reprodução (quando estes têm filhotes) e fazem o plantio de algumas plantas consideradas importantes, como o milho, o amendoim, as mandioca, a batata-doce e o tabaco. Além disso, durante a visita a seus parentes, os Guarani aproveitam para trocar sementes e mudas a fim de impedir que várias espécies vegetais importantes na sua alimentação desapareçam, garantindo sua diversidade.

Variedades de milho cultivadas pelos Guarani. Fonte: Prêmio Culturas Indígenas.
Variedades de milho cultivadas pelos Guarani. Fonte: Prêmio Culturas Indígenas.

Os Guarani escolhem o lugar em que vão construir sua aldeia com muito cuidado, pois este ambiente deve proporcionar a eles os produtos necessários para a manutenção de seus modos de vida. Além das questões ambientais, questões religiosas e sociais também são importantes nesta escolha, pois o local deve permitir ao grupo uma vida de acordo com seus costumes e regras tradicionais.

Ameaça

Infelizmente o ambiente dos Guarani não está livre de destruição. Mesmo respeitando o tempo de reprodução de cada espécie para não acabar com os recursos que necessitam para viver, estes estão cada vez mais difíceis de encontrar. Isso é resultado da ocupação e do desmatamento que ocorrem ao redor das aldeias.

Não deixe de ler o texto abaixo, escrito pela comunidade guarani de Morro dos Cavalos para reivindicar a demarcação de suas terras.

 

“Tudo era livre e hoje está tudo sendo proibido para nós. Para fazer roça, como antigamente, nós já não podemos. Mas pelos menos esse pedaço de terra que estamos querendo demarcar tem que ser reconhecido, porque se tirarem de nós até esse pedacinho, não teremos mais nada. (...) Queremos a garantia da terra para viver nossa cultura com liberdade, cultivar nossa cultura, ensinar nossos filhos e nossos netos. Porque hoje em dia, com a falta de uma terra verdadeira para nós, não podemos viver nossa vida e nossa cultura (nhande reko) completamente”.(Relatório de Identificação, 2002)